ANNABELLA

"O que será que esse cara tá fazendo com a gente? Ele não tem jeito de ser esportista."

- Então, Edu, você mexe nessas coisas de computação? - Perguntei à ele.

- De vez em quando, sim. Mas prefiro observar a floresta e fauna... - Seus olhos procuravam outra coisa, isso me irritava.

- Hum, ainda bem. Ainda tinha dúvidas em questão ao seus gostos. Mas vejo que você tem cérebro. - Soltei uma risada, mas acho que ele não gostou, então fiquei séria rapidamente. - Er.. bem, que tipo de animais você gosta?

- De qualquer um... - Ele ainda não prestava atenção em mim.

- E de animal gente, você gosta? - Provoquei-o.

Ele ia falar algo para mim, mas um estrondo veio lá de trás. Quando eu olhei, Vicente já estava ajudando Leandro a se levantar do chão, e a Jaqueline estava chegando. Parece que ele havia conseguido abrir a porta daquela casa. Sorri e me virei novamente para o Eduardo.

- Então, onde paramos? - Perguntei.

- Você não vai lá ver como está o Léo?

- Não, não... Ele já tem a ajuda do Vicente e da Jaque. Além do mais, a gente estava conversando. Então, qual era o assunto?

- Bem, na verdade eu não sei. Eu não tava prestando muita atenção...

- Ahá, eu sabia! - Apontei o dedo para ele - Eu venho até aqui, longe do calor do fogo, quase no escuro, pra ver se te conheço melhor, e você nem aí pra mim!

- Escuta Anna, eu não vi nenhum animal por perto até agora. Desde que chegamos, eu não escuto nem cigarras.

- E...?

- Tem algo de estranho aqui.

- Tem sim. Sou eu te dando atenção!

Saí de lá, e comecei a caminhar para a fogueira. "Hunf, quem ele pensa que é? Eu querendo me aproximar mais dele, e ele nem pra me ouvir? Ora, não nasci pra isso não" pensei. Quando olhei para a casa, Jaqueline estava na frente da porta. Ela parecia apreensiva. Me aproximei dela e pedi o que estava acontecendo. Ela me disse que logo depois de arrombarem a porta, ouviram algo vindo de lá dentro. Então, Leandro e Vicente foram olhar.

- Estou muito preocupada. - Ela finalizou.

- Deve ter sido só imaginação de vocês. - Falei.

Então Leandro veio correndo para fora. Ele estava ofegante.

- Meninas... Tem... Uma garota... Ela... Ela tá muito mal. - Ele puxou o ar - Vicente ficou lá olhando ela enquanto vim aqui buscar ajuda de vocês.

- Mas como assim "mal"? - Perguntei.

- Vem comigo, eu explico no caminho. Pegue um pano. Você vem Jaque?

- Eu vou esperar vocês aqui. Muita gente só vai atrapalhar.

Então eu peguei um pano limpo e entramos naquela casa. Entramos num longo corredor, iluminado apenas pela luz da fogueira e da lua. Passamos correndo por umas duas portas, enquanto Léo explicava que haviam encontrado uma garotinha ajoelhada numa poça de sangue. Parece que Vicente olhou para ela, e ele viu que ela estava com o rosto ensanguentado. Então, mandou Léo voltar e pedir ajuda, além de alguma coisa para estancar o sangue. Quando chegamos na última porta, ela estava aberta. Quando entramos, não havia nada. Nem sinal de Vicente, nem de garota, muito menos de sangue. Léo falou:

- Nossa, que estranho... Vicente estava bem aqui com a garotinha....

- Estranho? Sei... Não sou boba viu? Você inventou essa história isso sim.

- Inventei nada garota! Por que diabos eu inventaria algo tão sério?

- Ora, para querer ficar sozinho comigo. Você vive implicando comigo, mas na verdade você me ama.

- Amar? Você?! - soltou uma risada irônica - Depois eu que sou o piadista...

- Você deve ter combinado com o Vicente e com aquela fazida da Jaque...

- Guria, cê não se toca não? Em primeiro lugar, eu nunca inventaria uma história assim para dar em cima de alguém, e muito menos em você. Em segundo lugar...

A fala de Léo foi interrompida por um grito lá fora. Era a Jaqueline. Voltamos correndo pelo mesmo caminho, e encontramos a Jaque olhando dentro do poço.

- O que houve Jaque? - Léo gritou da porta da casa.

- O Eduardo - Ela mal conseguia falar - Ele... ele caiu aqui dentro. - Ela apontou para o poço.

Corremos até lá e começamos a gritar pelo Edu. Por sorte ele respondeu. Disse que estava bem, só um pouco machucado, mas que algo amorteceu a queda dela. Depois disso, ele deu um grito. Começamos a gritar novamente por ele. Depois de um momento, ele disse para relaxarmos, que não tinha sido nada. Então ele gritou para gente que ele havia encontrado uma passagem lá dentro. Ele sabiamente deduziu que poderia ter uma saída, e disse para nós que ia investigar.

- O que vamos fazer enquanto esperamos você? - Gritei.

- A gente devia procurar o Vicente... - Léo falou. Ele estava um pouco assustado.

- Nossa Léo, eu não vou cair nessa de novo. E além do mais tem algo importante para fazermos aqui. - Eu disse.

Eu e ele começamos a discutir, e a Jaqueline tentava apartar. No fundo do poço, Edu gritava pedindo o que estava acontecendo. Então ouvimos uma risada feminina vinda da porta da casa. Olhamos os três juntos, e vimos uma garota olhando para nós. Ela estava descalça, seu cabelo liso e escuro descia pelo seu rosto. Usava um vestido longo preto, e segurava uma boneca desbotada e caolha na mão direita.

Emudecemos na hora. Então, depois de alguns segundos, a garota correu para dentro da casa, sumindo na escuridão. Eu comecei a correr atrás dela.

- Ei, Anna, a-aonde você v-vai? - Léo falou.

Parei e me virei bruscamente pra ele: 

- Como assim aonde? Essa garota é muito suspeita e eu vou atrás dela!

- M-mas... mas você olhou para ela? E-ela não parecia desse mundo.

- Ah, eu não acredito... Fantasmas não existem. É tudo fruto da sua cabeça Léo. Que deve ser vazia pelo jeito, já que não se importa nem com o Edu, preso lá embaixo, nem com a Jaque, que tá toda preocupada, e nem com o Vicente que... Falando nisso, cadê aquele cara? Justo quando mais precisamos dele, ele some... Vai chamar ele Léo! - Berrei.

- Eu já disse para vocês que ele sumiu! Ele estava lá e depois não estava! Eu não sei... - Leandro foi interrompido por um barulho vindo das casas ao nosso redor.

Parecia que alguém havia tropeçado em algumas coisas. Fez-se um pequeno silêncio após isso, e então pudemos ouvir passos. Jaqueline falou alguma coisa e correu pro meio da escuridão. Gritamos para parar, e iríamos seguir ela, se eu não lembrasse do Edu. Fui correndo até o poço e chamei por ele, mas ele não dava sinal de vida. Talvez já tivesse ido em busca de alguma saída. Suspirei, ignorei o pânico do estúpido do Léo, e me dirigi para a casa.

- Espera, você vai entrar sozinha? - Léo falou.

- Claro! Esperar aqui não dá. Você vai ficar ou vai vir?

Ele hesitou um pouco, mas veio atrás de mim.

"Eu não acredito... sou mais jovem que ele, porém mais madura também. Afs, ele que deveria servir de exemplo..." pensei enquanto via ele mais assustado que criança vendo filme de terror.


A casa estava como antes. Vazia e com pouquíssima iluminação. Começamos a andar em linha reta para o final do corredor.


- Você deveria ser mais homem Léo. 

- C-como assim? - Ele não parava de olhar em volta.

- Olha só você, todo borrado por causa de uma garotinha.

- Você tá doida? Olha a situação que estamos.

- Situação? É a seguinte para mim: Uma garotinha, que provavelmente é filha de alguns mendigos que devem morar por aqui, aprontando para a gente, o Eduardo que sofreu um acidente, Vicente que deve estar escondido em algum lugar por aqui, Jaqueline que está correndo atrás possivelmente de um animal, e você, tremendo que nem vara verde. No fim, eu sou a mais sensata.

- Você devia era se por no meu lugar isso sim.

- Você devia ser menos mijão...

- Sério, eu já não te aguento mais. Quando formos embora daqui, ou sai eu, ou sai você.

- Os incomodados que se retirem.

- Olha garota... Mas o que é isso? - Ele mudou o tom de voz.

Havíamos chegado no ultimo quarto novamente. Havia um lençol branco cobrindo alguma coisa bem no centro dele. Algo que parecia ser uma garotinha.

- Ali está ela. - Falei - Você nos deve algumas explicações pequena... - Me aproximei dela e me agachei, enquanto Léo ficou escorado na porta.

Cheguei perto e lentamente aproximei minha mão, até segurar firme o lençol. Quando puxei com força, o que estava por baixo dele era apenas um manequim. "Como isso veio parar aqui?" pensei. Então, um vento muito forte veio do corredor. Olhei para a porta rapidamente, e então algo puxou Léo para baixo. Ele tentou se segurar na porta, mas ele não conseguiu aguentar e começou a ser arrastado por alguma coisa e a gritar. Quando tentei levantar, algo segurou meu tornozelo. 

Era a mão do manequim. Olhei assustada para aquilo. Então, a cabeça do manequim rapidamente virou-se para mim. Ela tinha os olhos totalmente escuros. Ela sorriu, os dentes afiados à mostra.

A porta bateu com força. E eu gritei por ajuda. Gritei até estourar as minhas cordas vocais. Então, senti algo monstruosamente entrando em mim e me dilacerando por dentro.

Em poucos segundos, eu estava morta.


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